Paz à sua alma!
Quem não se recorda, do grande “campeão das abarcas” da Pinha!.. Anos 60 / 70 do Século passado!
O amigo Zé Tomé, que na altura geria com mestria e aquele riso contagiante, o Café Ossónoba em Estoi, local privilegiado do agora Largo da Liberdade, paredes meias com o Café Sol Algarvio, do saudoso Mestre Chico!..
Morreu um amigo! Mais um! Há poucos dias o Cipriano, na Alemanha faleceu, após luta infrutífera contra a doença que o vitimou…
Vamos ficando mais pobres!.. Mas a vida continua, tem que continuar.
O Zé Tomé, o Cipriano, o Rodrigo Corvo e tantos amigos que recentemente nos deixaram, vão querer, lá no Alto, que continuemos o nosso destino terráqueo… Lutemos por ser dignos do lugar e do papel que cada um tem que desempenhar enquanto povo.
No Café Ossónoba vi, de olhos esbugalhados e já sonolentos, a chegada do homem à lua, 20 de Julho de 1969, lado a lado com outros jovens estudantes da época e o descrédito dos habituais jogadores de dominó, que nos diziam proféticos: -“Isso são filmes de americanos…”
De facto, o americano Neil Armstrong, a bordo da nave Apolo 11, deu os primeiros passos na superfície lunar e deixou a todos nós a célebre frase:
-Um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade.
Não posso esquecer-te Amigo Zé Tomé! Foste sempre um homem bom, sorridente, prestável e valente como o aço.
A Equipa de Futebol de salão, que representou Estoi e ganhou o Torneio da Alameda, com brilho e muito apoio de Estoienses que apoiaram a Equipa da “alfarroba”, como éramos conhecidos, ao regressar à aldeia, após mais uma de tantas vitórias, era obsequiada no Café Ossónoba, pelo Zé Tomé e a simpática e saudosa esposa Linda, com uma garrafa de vidro, com um litro de leite fresquinho da Ucal, que ainda hoje conservo o paladar retemperador da oferta!..
Gestos que só guardamos no cofre mais secreto de nossos corações “amanteigados”…
Depois quem não recorda os dias gloriosos da nossa Festa da Pinha, nos finais dos anos 60, primeiros 70, do século passado!..
Era tradicional, no terreiro do Ludo, após um almoço / convívio inter-geracional, sempre bem comidos e melhor regados, realizar-se num local central, o torneio das abarcas, ou seja, uma luta leal e onde ninguém estava autorizado a rebelar-se com o adversário de ocasião, onde os pseudo-valentões da época, mostravam as suas habilidades e jeito para a luta, tipo greco-romana, agarrando-se pelos ombros e tentando derrubar o adversário.
O que caía, perdia e o vencedor prosseguia com outro adversário. No final era o vencedor aplaudido e por vezes levantado aos ombros dos circunstantes que faziam um grande círculo em volta, apoiando e aplaudindo o seu herói.
O Zé Tomé foi, anos e anos o “rei das abarcas da Pinha”, recebendo por vezes troféus alusivos. A sua filha querida, Paula Barão (Tomé), é, estou certo, fiel depositária dessas honrarias, justíssimas.
Não poderia ficar indiferente, aqui neste espaço público e plural, como seu amigo, admirador e conterrâneo, de prestar a minha homenagem saudosa, a um Homem vertical, amigo do seu amigo, esposo dedicado e fiel, pai e avô extremoso, que tive a subida honra de privar e conhecer de perto.
Descansa em Paz bom amigo! Todos, um dia, Lá nos encontraremos e voltaremos a ouvir esse riso único, confortável, carinhoso, intuitivo.
Se ainda o conseguir, baterei forte na bola, com o meu pé esquerdo, para a baliza da adversidade, da má língua, da animosidade e marcarei um golo, um golo quase impossível, para poder saborear de novo, esse copo de leite geladinho que nos servias quando regressávamos vitoriosos e felizes à nossa aldeia de Estoi e dar-te-ei um grande abraço, sem intenção de me derrubares, como tantas vezes o fazias aos “valentões” que na Pinha, invariavelmente, iam beijar a poeira do terreiro, onde sempre foste Campeão!
Glória Eterna Meu Bom Amigo. Descansa em Paz – Zé Tomé.
Faro, 20 de Maio de 2021
(Joaquim Aleixo)
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