Ser Jogral

"Ser Jogral é gostar / Duma forma predileta / De ler alto ou declamar / Versos de qualquer poeta !"


17 maio 2023

Festa da Pinha – 2023 (Balanço Final)



Julgo da maior pertinência e importância, a realização pública de reuniões com os organizadores e participantes na Festa da Pinha, tradição que há alguns anos a esta parte tem vindo a ser concretizada no Cinema Ossónoba de Estoi, não obstante alguma crítica construtiva, no sentido da mesma poder ser realizada, cerca de 1 mês antecedendo a romaria dos “almocreves”, permitindo afinar estratégias e decisões mais pertinentes.

À mesa, o Presidente da União de Freguesias, como responsável directo pela Organização da Festa da Pinha, o Presidente da Confest, representante da Associação responsável pela organização do cortejo e demais responsabilidades organizativas e outros elementos, ligados à União de Freguesias, ao Moto Clube de Estoi, responsável pela aplaudida e desejável continuação da muito participada Pinha Infantil, aqui faltando, a meu ver, um responsável pela Autarquia farense, também ela cooperante e parceira da Organização, assim como a ausência das restantes Associações Estoienses, que, julgo, deveriam ser todas convidadas, pela universalidade da Festa no seu todo.

Após as explicações dadas, as preocupações que cada ano são cada vez maiores, com a segurança, a conduta dos almocreves, a necessidade dos testes de álcool à partida de Estoi e no regresso do Ludo, o respeito pelos princípios que devem imperar no cortejo, com a inscrição dos cavaleiros, charretes, carroças, tractores e outros, respeito pelos animais e pessoas que assistem ou participam no cortejo, é a vez de cada qual opinar, dar sugestões, criticar o que julga não estar correcto, etc., etc.

Aplaude-se a postura de uma grande maioria dos presentes, autênticos defensores da tradição almocreve, que preservam e respeitam aquilo que devem vestir, decorar as suas montadas, viaturas e partilhar os tradicionais petiscos no Ludo, com muita alegria, convívio constante, animação.
Eles são e serão sempre os continuadores do que de mais puro a Pinha nos oferece.

O trabalho de retaguarda que é feito, por vezes invisível e mal compreendido, de inscrições por ordem de chegada, de limpeza do terreno em Ludo, cada vez mais exíguo e desmatado, de aquisição de archotes e sua entrega sistemática no regresso, a contratação da banda de música, de animação no recinto do Picadeiro, das licenças necessárias, da segurança, do policiamento nas estradas de Faro e Loulé, da higienização, dos Bombeiros e auto tanque, do fogo de artifício, da colocação das palmeiras pelas casas de passagem do cortejo, o repicar do sino à partida e à chegada, do convite ao pároco local para abençoar toda a longa comitiva no arranque da mesma e regresso, do arranjo do cruzeiro junto à Capela da Senhora do Pé da Cruz, da missa do dia 3, tudo tarefas que são assumidas pelos organizadores para que nada falte aos almocreves…

Parabéns a quem trabalha por todos nós!..

A todos os presentes, na reunião coletiva no Cinema, é oferecido um Regulamento, onde é expresso aquilo que cada um deve respeitar e fazer cumprir para o sucesso da nossa Festa da Pinha. 
Tenho a clara noção que muitos não o lêem ou pura e simplesmente o desprezam, atropelando sistematicamente as indicações nele transmitidas, fruto da experiência de anos e anos organizativos, o que é lamentável.

A Festa da Pinha é de Estoi, dos Estoienses em geral e de todos aqueles que, livre e espontaneamente assumam nesse dia a responsabilidade integral de respeitar a tradição almocreve, conhecendo aquilo que lhes é sugerido pelos organizadores, nomeadamente no cumprimento e utilização de roupa adequada e adereços que a complementem, a saber: -Chapéu campestre, em especial de cor preta; camisa branca e colete de cor diferente, lenço vermelho ou colorido em volta do pescoço, calça campestre, cinta preta ou vermelha em volta da cintura, botas rurais e, uma rosa ou flor colorida decorando o chapéu. 
As cores predominantes da Festa da Pinha são o branco, o preto e o vermelho e a visibilidade de quem assim se assume, dá brilho, colorido e prestígio a quem nos visita e aplaude à partida e à chegada. 

Hoje em dia, as denominadas “redes sociais” transmitem, em direto e ao vivo, aquilo que cada um de “per si” está fazendo pela sua tradicional Festa da Pinha e se a imagem que lhes damos é de uma desordem total, de um “abandalhamento” grotesco, quem lá vai a primeira vez, fica “vacinado” para lá não regressar…

Muitos dizem, à boca cheia, que a Festa da Pinha é a “festa dos bêbados”, o que agride e entristece aqueles que julgam não ser assim como a catalogam… 
Dizem-no porque vêem, em especial à chegada a Estoi, dezenas e dezenas de participantes embriagados, sem camisa, de tronco nú, alguns meio despidos e esfarrapados, com chapéus de cabedal de proveniência duvidosa, sem respeito pelos visitantes, de garrafas de vinho ou cerveja nas mãos, despejadas no alcatrão das estradas do percurso ou atiradas para as veredas de passagem, debruçados e até deitados nos motores dos tratores ou nas proteções das rodas dianteiras, empinando cavalos perigosamente, pondo em causa a segurança dos visitantes, carregando animais de fraca corpulência, espumando e suando por todos os lados, levando nos cavalos ou éguas mais do que o seu condutor, enfim!.. 
Uma panóplia de alta perigosidade, que denigre a Festa, os seus promotores, a aldeia e a tradição, estudada em universidades, em trabalhos de pesquisa e estudo em mestrados académicos, esses sim, que nos dão brilho e honrarias, tornando-a, muito justamente, “Património Cultural Imaterial”, por unanimidade dos deputados farenses.

Havendo ainda muito a narrar, a transmitir e a melhorar, julgo da maior importância e actualidade, no próximo ano, 2024, se tivermos saúde e a vida assim nos proporcionar, realizarmos no início de Abril, uma reunião aberta e publicitada entre todos os verdadeiramente interessados no bom nome da nossa Festa da Pinha, no mesmo local, Cinema Ossónoba, onde, para lá da agenda de trabalhos habitual, fazer-se uma resenha do ano que passou, 2023, com pontos positivos e negativos, sem culpar alguém, sem arranjar “bodes expiatórios”, tentando organizar a tempo e horas uma Comissão organizadora plural, que reforce a metodologia a adoptar, defina regras e posturas a todo e qualquer cidadão, Estoiense ou forasteiro, que queira fazer parte integrante do cortejo da Festa da Pinha, desde a concentração no Picadeiro, na manhã do dia 2 de Maio, à hora combinada, respeitando, escrupulosamente, aquilo que o bom senso, a tradição, a cultura popular, o respeito pelas pessoas que irão também participar e em especial ao público que ao longo de percurso nos vê, apoio, grita, incentiva, onde a palavra de ordem é e será sempre: “Viva a Pinha – Viva a Festa da Pinha – Viva os almocreves – Viva Estoi!..”, até à entrada eufórica e feérica na aldeia, terminando no Cruzeiro junto à Padroeira, Nossa Senhora do Pé da Cruz e descomprimindo finalmente no Picadeiro, com o bailarico habitual e a troca de experiências de um dia festivo, único, inimitável, sagrado, que dignifique os promotores, Estoi e seu povo humilde e trabalhador.

No dia 3 de Maio, dia de Vera Cruz, a presença maciça na missa na Ermida, culminará a parte religiosa da festa anual, centenária imortal, verdadeira embaixadora da nossa aldeia, sendo que nessa noite, deverá ser dada ao conhecimento de todos, os resultados dos tradicionais Jogos Florais da Pinha 2024 que as Associações culturais da aldeia deverão assumir em pleno, convidando as Escolas a aderirem.

Por último, afirmo toda a minha inteira disponibilidade, se a saúde mo permitir(!), para dar o meu modesto e desinteressado contributo à minha aldeia e à “nossa Festa”, na tentativa de tornar a Festa da Pinha cada vez mais apreciada, respeitada e convidativa à partilha de amizades, convívio gastronómico, numa clara manifestação cultural, onde impere a alegria, a animação, a música dos seus dois tradicionais e belos hinos alusivos, um de autoria do excelente músico e poeta Fernando Inês e o outro com um belo poema do nosso “almocreve” Zé Correia e música do não menos excelente cantor Nestor. 

A Rádio Simão, que à frente do cortejo, grita a plenos pulmões o seu bairrismo e entrega total à festa, estará como sempre disponível para dar a todos um exemplo de dedicação e continuidade, que importa a todo o custo ser preservada. 

Viva a Pinha! Viva a Pinha cacete!..

Em data posterior, devidamente publicitada, a Organização convidará a população participante a uma reunião, onde serão colocadas todas as questões mais pertinentes. O que esteve bem e o que não esteve tão bem. A avaliação final da Festa da Pinha é deveras importante.

Estoi, 17 de Maio de 2023 
 (J. Aleixo)

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